Fragmento extraído da matéria “OS DESAFIOS DA SOBREOFERTA DE ENERGIA: VERTIMENTOS E CURTAILMENT” – Acende Brasil, de 19/12/2023:

“Os vertimentos turbináveis ocorrem quando parte da água que chega à hidrelétrica é escoada pelo vertedouro em vez de pelas suas turbinas para produzir energia, o que caracteriza um desperdício de energia potencial que poderia ser produzida a baixo custo. Isto ocorre quando o sistema não dispõe de capacidade para receber energia adicional da usina mas a hidrelétrica precisa escoar água, seja por falta de capacidade de armazenamento adicional no seu reservatório, seja para atender às exigências de defluência mínima, um requisito técnico que demanda um fluxo mínimo de água rio abaixo da usina.

O fenômeno também ocorre com parques eólicos e solares na forma do curtailment, termo em inglês para designar a redução da produção de energia dos parques geradores por ordem do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que é a autoridade responsável pela operação do Sistema Interligado Nacional.

Parte dos vertimentos e do curtailment se deve a restrições do sistema de transmissão, seja por falta de capacidade de escoamento, seja por questões de confiabilidade. Mas a maior parte dos vertimentos e do curtailment atualmente ocorrem porque a geração potencial das fontes renováveis supera a carga líquida (ou o consumo instantâneo líquido), já considerada a chamada ‘geração inflexível’. Ou seja, os vertimentos e o curtailment acontecem porque há uma sobreoferta estrutural: a oferta instantânea sup/era a demanda instantânea.

O fato é que a maior parte da geração no sistema elétrico brasileiro é inflexível ou não controlável pelo ONS. Portanto, em dados momentos é preciso desperdiçar energia potencial na forma de vertimentos turbináveis ou curtailment.

A maior parte dos vertimentos tende a ocorrer no período úmido, quando as vazões afluentes (volume de água que chega às hidrelétricas) são maiores. Já o curtailment tende a ocorrer no início do segundo semestre, quando a produção eólica e solar se intensificam. A maior parte do curtailment ocorre nos domingos e feriados, quando a carga é menor, mas a produção permanece a mesma. O fenômeno atinge principalmente os parques solares, pois estes têm a sua produção concentrada em poucas horas do dia, quando o problema é mais agudo.

Olhando para frente, percebe-se que o problema tende a se agravar. Projeções indicam que o curtailment deve continuar aumentando nos próximos anos até representar cerca de 6% da geração potencial das fontes eólica e solar por volta de 2026 e 2027. Já as vertentes turbináveis, que nos últimos anos representavam no máximo 5 a 6% da geração hidrelétrica, passaram a representar cerca de 13% da geração hidrelétrica em 2023.”

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